Tempestade no Cedro
Já pegamos algumas tempestades no ferro, já garramos, e já aprendemos bastante em um pouco mais de 04 anos morando a bordo. Mas as tempestades chegam e sempre nos surpreendem.
Desta vez estávamos ancorados na Ilha do Cedro em Paraty, e como é comum nesta época do ano, sempre chove no fim do dia: tempestades de verão acompanhadas de ventos médios.
Estar em uma lugar ancorado por mais de 15 dias te ensina muito sobre os ventos da região, sua predominância e sua intensidade, sendo a observação essencial para garantir a nossa segurança no mar.
É uma terça feira de um feriado de carnaval diferente, devido ao covid, o Cedro está cheio de veleiros, e também há algumas lanchas perto da praia, ancoradas de popa para a praia e juntas… Um perigo na minha opinião…
A tarde está ensolarada, há poucas nuvens no céu, e ficamos sentados no cockpit apreciando a paisagem. Rapidamente o céu começa a ficar encoberto e noto umas nuvens estranhas, tinham um formato de bolinhas, ou rolinhos…
Continuo observando a nuvem e rapidamente o céu começa a mudar, mais nuvens chegam em uma velocidade incrível, chamo a atenção do André para as nuvens, e ele diz, vem tempestade aí. Abro um aplicativo de previsão do tempo no celular e acesso o Radar Meteorológico, vemos que a chuva já está muito próxima.
Começamos a tirar coisas que podem voar e molhar do cockpit e esperamos.
Mas a tempestade foi muito maior do que estávamos imaginando, não pensamos em ligar os equipamentos para medir a velocidade, pois estávamos preocupados com todo o entorno, com a Tinkerbell e com todos os barcos a nossa volta.
Ligamos o motor, por precaução.
Olhamos para o barco do Ricardinho, o Seachegue, seu botinho que estava no proa, amarrado apenas por um lado, estava levantando vôo. Ele rapidamente vai até a proa e amarra seu bote, enquanto isso a sua capa de proteção de sol e chuva, se desfazia em pedaços, tamanha a velocidade do vento. Ao observá-lo notamos que ele começou a garrar (a âncora começou a arrastar) e começamos a gritar que nem doidos para ele ligar o motor. Ele já havia notado e já estava voltando para a popa e acionando o motor.
O vento estava tão forte, e as rajadas tão violentas com mudanças bruscas de direção, que os barcos adernavam, enquanto rapidamente tentavam se alinhar ao vento. Nestes movimentos bruscos, conseguimos ver a quilha de diversos barcos.
A âncora do Ricardinho não estava conseguindo unhar de jeito nenhum, e ele ficou o tempo todo de motor ligado, tentando ficar o mais longe possível dos outros barcos.
Vimos botes de apoio levantando voo e virando de ponta cabeça com motor e tudo, um dos botes dos nossos amigos que estavam lado a lado, virou em cima do outro e depois desvirou, retornando à posição original, mas deixando o tanque de combustível a salvo no bote que ficou embaixo.
As rajadas com viradas de direção bruscas, fizeram com que perdessemos a capa de um dos nossos equipamentos, e esta foi nossa única perda (nosso botinho se comportou bem).
Vimos estofados de lanchas que passaram por nós e coisas caídas de embarcações. Por sorte de quem ancorou perto da praia, o entorno da Ilha bloqueou a maioria do vento forte, e por isso as lanchas ancoradas lado a lado, não sofreram nenhuma avaria.
E no meio da tempestade como se um presente, aparece um arco-íris.Como se para lembrar que a natureza é assustadora e bela ao mesmo tempo.
Assim que o vento diminuiu um pouco, o André foi de botinho até o Seachegue para ajudar o Ricardinho a ancorar o barco novamente.
Ao levantar o ferro no Seachegue, tinha um saco plástico… Foi provavelmente este o motivo para o Seachegue ter soltado o fundo.
Depois de ter ajudado o Ricardinho, o André voltou, mas antes passou nos barcos dos nossos amigos do Bracuhy para checar se todos estavam bem!
E após a tempestade vem a calmaria… Depois de trocar as camisetas ensopadas, rolou até coxinha e drinks no Seachegue.
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